Ruas
A arte e vida estão sempre
ligadas e isso sempre reflete nos trabalhos dos artistas, demonstrando aspectos
do cotidiano e os fatos na contemporaneidade. Nesta série apresento memórias e
vivências nos espaços urbanos, trabalhos que dialogam com minhas experiências
de vida, passadas principalmente nas cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte,
onde observo as transformações que ocorrem nestes espaços, nas estruturas, na
arquitetura que se modifica e transformam seus espaços físicos e as pessoas que
habitam as cidades. Ruas, esquinas e avenidas, que hora se parecem construindo,
desconstruindo, ou se complementando. Esses pensamentos e os trabalhos até
agora apresentados tem inspiração também no poema Ruas, de Carlos Drummond de
Andrade, onde o poeta revela a surpresa com as mudanças de vida da nova capital
onde as ruas não são mais sinuosas e novas perspectivas vão surgindo, e
revelando as transformações dos espaços urbanos. Nas experiências vivenciadas
nas cidades sempre observo as transformações continuas do espaço urbano, onde o
passado e o presente apresentam ambientes em processo de mudanças, onde ainda
vemos o conflito entre o velho e o novo, a tradição e a inovação. Por meio de
signos e imagens reais e imaginarias procuro transpor o real em um ambiente em
constante transformação, estabelecendo relações entre a realidade das ruas e a
poética da transitoriedade da vida urbana, exercitando o olhar para as nuances
das banalidades e aspectos importantes de nossos tempos.
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Ruas 1, aquarela e colagem s/papel, 42x29cm, 2014 |
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Ruas 2, aquarela e colagem s/papel, 42x29cm, 2014 |
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Ruas
3, aquarela e colagem s/papel, 42x29cm, 2014 |
Ruas
Por que ruas tão largas?
Por que ruas tão retas?
Meu passo torto
foi regulado pelos becos tortos
de onde venho.
Não sei andar na vastidão simétrica
implacável.
Cidade grande é isso?
Cidades são passagens sinuosas
de esconde- esconde
em que as casas aparecem-desaparecem
quando bem entendem
e todo mundo acha normal.
Aqui tudo é exposto
evidente
cintilante. Aqui
obrigam-me a nascer de novo, desarmado.
Carlos Drummond de Andrade