Mediação e criatividade
Ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção
ou a sua construção.
Paulo
Freire
Através
de minhas experiências com arte e educação venho descobrindo que o ensino e
aprendizagem de arte podem provocar nos alunos novas experiências no contato
com a arte, levando-os a se interessar pelo processo criativo descobrindo
formas de elaborar e criar seus trabalhos com autonomia, investigando e
manuseando materiais, conhecendo técnicas e estilos artísticos, estimulando
seus sentidos e aumentado suas percepções, buscando estar atento e com um olhar
sempre aberto a desvendar significados nas artes e nas experiências de vida no
seu dia a dia.
A
partir das experiências nas aulas de criatividade que tive na Escola Guignard
(UEMG), na aplicação de aulas e no processo de mediação nos espaços não
formais, penso que o ensino/aprendizagem em arte proporciona uma experiência
enriquecedora para o aluno e para o professor, pois o fazer artístico que
estimula a criatividade e o pensamento do aluno levando-o ao desafio de buscar
soluções para a realização dos trabalhos por meio das experiências dele próprio
traz confiança na descoberta de seu potencial, sendo o professor um estimulador
e propositor, que mostra caminhos a serem explorados pelos alunos, que por seus
próprios meios encontra soluções no ato criativo.
Por
essas experiências vejo também que a mediação tem papel fundamental no processo
educativo, pois provoca o aluno a investigar e analisar os trabalhos por meio
do olhar, proporcionando uma leitura não só estética das obras, mas descobrindo
conceitos, contextos históricos, e novos significados nos trabalhos, analisando
a materialidade ou a poética de cada obra, passando às vezes de um momento de
estranhamento à admiração, provocando a imaginação do aluno. Esse pensamento é
fundamental no processo pedagógico/criativo e na fruição da obra de arte, pois
muitas vezes o aluno diz não gostar de seu trabalho ou não ter entendido uma
obra de arte, não percebendo que a experiência com a arte expande nossas
percepções, trazendo a oportunidade de ver o mundo de forma diferente,
aprendendo a identificar valores em coisas simples.
Nas
aulas de arte, tanto na escola como nos espaços não formais devemos mostrar aos
alunos que a obra de arte, antes de fornecer um conhecimento sobre o mundo, nos
impulsiona a um diálogo sobre o mundo mediado através do olhar e dos signos
nela contidos. Assim, ao se propor um encontro com obras de arte em sala de
aula ou em museus e centros culturais deve-se explicitar aos alunos/fruidores
da arte a conscientização de que os artistas se propuseram a falar de suas
realidades e esperanças através da linguagem da arte. Nesse processo de ensino
e aprendizagem em arte é importante criar condições para novos encontros e
experiências estéticas, tendo em vista que a obra pode oportunizar uma
experiência nova para cada fruidor, revelando assim seu ponto de vista,
exigindo do aluno uma atitude de investigação, levando-o a aprender com suas
descobertas as possibilidades de criação e interpretação por meio da arte.
Por
meio da exploração sensorial dos espaços expositivos, somos capazes de
descobrir novas formas de experenciar e fluir a arte, buscando o diálogo e a
troca de saberes, compreendendo as imagens de uma forma diferente a que estamos
habituados, desenvolvendo a compreensão das linguagens da arte, ampliando a
capacidade de perceber, analisar e avaliar as qualidades expressivas das
imagens e objetos, desenvolvendo a imaginação e a poética visual.
![]() |
Exposição Habitáculo, Cine Theatro Brasil, BH, 2015 |
Eu acho que a primeira função da
educação é ensinar a ver, eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de
professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a
apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana.
Rubem Alves
![]() |
Instituto Inhotim, Brumadinho, MG 2014 |
O papel atribuído ao mestre é o de
eliminar a distância entre seu saber e a ignorância do ignorante. Suas lições e
os exercícios que ele da tem a finalidade de reduzir progressivamente o abismo
que os separa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário